A IMORTALIDADE, A PROVIDÊNCIA E O AMOR DE DEUS
A
teologia cristã desde a idade média aos dias atuais nos revela alguns atributos
de Deus. O Espiritismo incorpora estes atributos ao seu corpo de conceitos e
isto é o esperado pelo fato de o Espiritismo ser uma religião cristã, embora,
apresente-se como uma filosofia e ciência do mundo espiritual. Temos algumas
características para Deus como: imutabilidade, eternidade, bondade infinita,
onisciência, onipresença e onipotência.
Tais aspectos da divindade nos revelam um ser
grandioso em poder e inteligência. A questão para o homem, entretanto, não se
torna importante apenas por essas características. Certamente, Deus poderia
permanecer com inteligência e poder infinitos e ainda assim não ter nos criado.
O criador bem que poderia ficar indiferente a própria criação sposito tê-la
concluído ou poderia ter criado quase deuses para o louvarem,
participarem e compreenderem a sua grandiosidade. Tudo isso é possível,
teoricamente, mas decidiu Deus criar seres imperfeitos como nós. É necessário
um amor incompreensível em sua generosidade para criar seres imperfeitos que
muitas vezes negam a própria existência daquele que lhes é a causa. Ao originar
seres imperfeitos, certamente, Deus compreendia a possibilidade ( não uma
necessidade) de que alguns destes seres pudessem se revelar maus. É o
puro amor que se manifesta ao não exigir nada em troca.
Mas como saberíamos que Deus não quis apenas
criar seres imperfeitos para os ver sofrer? Não poderia criar seres que vivessem
a se agredir, a se perturbarem apenas para realçar o quanto estava Deus em
melhor situação? Não é o que temos visto muitas vezes? Ou alguém
considera a Terra um paraíso de delícias? Do ponto de vista lógico poderíamos
ser brinquedos de Deus. Como resolver tal questão? Os materialistas poderiam,
racionalmente, fazer tais colocações.
A solução de tal grave questão está na estrutura
do próprio universo. Não poderia tal questionamento ser resolvido apenas com o
raciocínio. Neste ponto a revelação espirita vem ao nosso socorro. Sabemos que
o espírito é criado simples e ignorante. Se existe o erro, este decorre de
nossa ignorância e inexperiência espiritual. Deus não nos obriga a cometer
erros, embora, sendo imperfeitos venhamos a errar em menor ou maior grau a
depender de nossa evolução espiritual. Ao evoluirmos passamos a errar cada vez
menos. É o livro arbítrio que nos dá possibilidade do erro, embora, não
explique o erro e muito menos o torne necessário.
Outra questão é saber se o Espiritismo proíbe
algo, se Deus proíbe aos seus filhos que cometam certas coisas. Já ouvi dizer
que o Espiritismo não proíbe nada. É uma colocação um tanto simplória porque
pode nos levar a crer que estejamos liberados para fazer o que desejarmos,
aquilo que achamos bonito e razoável. Tal conceito necessita de ser
esclarecido, pois, desconfio que da forma que é dito pode nos levar a erros
terríveis. As pessoas têm frases prontas e se esquecem de justificá-las após
exporem o que pensam do mundo. É possível que não tenham explicação e
apenas desejem que tal coisa seja assim e não de outra forma. Pode ser que
acreditem na obviedade do que dizem e, por isso, não precisam de explicações
complementares.
Vamos a um exemplo: você está de férias nas
praias do Caribe. Está todo feliz com sua namorada ou esposa. Está acompanhado
de um sobrinho. Na praia está escrito em uma placa imensa: praia infestada de
tubarões, perigo! Bem, você resolve nadar com seu sobrinho e o mesmo perde o
dedo mínimo da mão esquerda por uma mordida de tubarão. Você explica a mãe do
menino de três anos que você não tem culpa de nada, pois, não estava escrito na
placa: é proibido nadar. De fato, nem a placa e nem o Espiritismo exibem
proibições, mas isto não significa que você, como espirita, pode fazer o que quiser,
pode fazer o que "der na sua cabeça" E sabe por que? Porque você é um
ser consciente, responsável e, presumidamente, também inteligente.
Muitos pensam que Deus deveria colocar placas de
proibições em todo universo, ser mais explícito em suas leis. Outras acham que
a religião é uma imposição ou uma intromissão em suas vidas. Acreditam que pelo
fato de serem livres, ninguém no universo e nem mesmo o próprio Deus deveria
sugerir coisa alguma a quem quer que fosse e muito menos a eles. Que Deus não
teria de se intrometer por nenhum meio, mesmo que fosse um simples palpite.
Acreditam que indiferença ou distanciamento com a sorte dos demais seres seja
uma virtude das mais belas e que todos deveríamos nos recolher em nossos
próprios pensamentos e nos interessar apenas pela própria sorte.
Os últimos três parágrafos foram uma
tentativa de mostrar que a bondade de Deus e a nossa bondade não podem se
manifestar apenas pelo fato de termos poder e inteligência. Se Deus não
interferisse em sua criação, então, seria apenas inteligente e poderoso, mas
nunca poderia ser chamado de bom. Se você tem alimentos e não oferece a um
necessitado podendo fazê-lo, você nunca poderá ser chamado de bom. É a
atitude bondosa que revela a bondade de Deus, não as suas leis ou o seu poder.
As leis de Deus revelam apenas o seu poder e inteligência. Chamamos de
providência divina a essa atitude pessoal e bondosa de Deus.
Outro importante questionamento sobre a
divindade: se Deus é onipotente e amoroso, então, o que deveria fazer em
relação aos seres que ama? Poderia apenas ajudá-los através de suas leis e de
mecanismos outros decorrentes de sua ação pessoal em nossas vidas? Certamente
que tais ações seriam necessárias, mas não seriam suficientes. E por que não
seriam suficientes? Porque apesar de seu poder e de sua infinita bondade, ainda
assim morreríamos e de nossa existência nada restaria. Mesmo os nossos bons
exemplos morreriam um dia através da morte das pessoas que seguiram tais
exemplos. Assim Deus nos fez imortais. A maior demonstração da bondade de Deus
é a providência divina sem fim que Deus oferece a seus filhos: a imortalidade
nos garante isso, não somos apenas filhos de Deus e o amor de Deus não tem data
de validade, pois, nos acompanhará para sempre, seres imortais que somos.
> João Senna.
> Salvador, 19/04/2016
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